Drimméria

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A saída, a derrota, o encontro

A saída

Cabeça decidida. Goles e goles de coragem tomados. Litros e litros, na verdade, que não parecem ser o suficiente para apagar a ansiedade, o temor de que estamos embarcando em uma aventura louca e suicida. Mala pronta. Partiu.

O primeiros dias são um vagar inconstante, sem eira nem, um navegante sem experiência seguindo a esmo. Apeguei-me a um objetivo: chegar a terra prometida em que eu possa viver da minha criatividade e escrita. Mas, fui estúpido o suficiente para não fazer um simples roteiro de viagem. Saí sem bússola, nem mapa.

Após alguns dias vagando a esmo, aporto na ilha Nove. Um lugar grande com todo tipo de gente, assim como é Pindorama, assim como é o mar que decidi navegar. Há pessoas de variados comportamentos também: aproximo-me mais facilmente de algumas; outras são ariscas e não fazem mesuras ao me ignorar por completo; outras olham para mim como se eu fosse um extraterrestre. Olhando para eles e os comparando a mim, talvez estejam certos. Sou como o "cara estranho que pegou um par de roupas e se jogou ao mar, repleto de monstros marinhos, com apenas uma jangada". Louco, certamente.

A derrota

Penso, que merda eu fiz? Melhor era nem ter saído de casa. Sonhei com tanta coisa, pessoas para conhecer, mundos a explorar, histórias para escrever... Tudo parece estar dando errado logo de cara. Lembro do meu amor, seus olhos tristes lacrimejando, mas também com raiva, diziam "como você pode fazer isso? Como pode ir embora?". As pessoas que a gente ama, são as que mais fazemos sofrer...

O encontro

Cabeça decidida. Devo voltar. Caminho em direção ao porto, de volta para minha jangada, rumar para casa. Na rua do porto, há tanta gente trabalhando, carregando sacas de especiarias, grãos, cordas, são navegantes, como eu desejei ser. Parece uma feira, com pessoas falando alto e vendendo coisas, enquanto outras trabalham.

No meio da multidão, uma mulher está parada de forma despreocupada, oferecendo aos marinheiros prever a sua sorte e a benção para uma boa viagem em alto mar. Tem longos cabelos até a bunda amassada, face expressando a idade um tanto quanto avançada, algo em torno dos 56 anos eu estimo com meu achômetro, enquanto olho as rugas e o tamanho de suas adiposidades, mas principalmente pelo jeito cansado de quem já lê a sorte há muito tempo.

Por uma curiosidade qualquer, sigo até ela. Chama-se Andrea, diz ser uma cientista antroposocióloga e tenta ganhar meu dinheiro com uma conversinha de me ensinar a ser milionário, apenas sendo o tipo ideal, uma teoria de um tal sábio Weber sobre como o homem deve se comportar para ter sucesso na vida e na sociedade. Virei as costas e a deixei falando sua ladainha, mas ela gritou: - Minha ciência pode te ajudar a singrar estes mares!

Cabeça decidida. Tive que voltar e ouvir o que ela queria me propor. Fizemos o seguinte acordo: eu lhe traria comida e, durante alguns dias, ela me contaria as coisas que ela sabia. Resolveu dar-me a primeira lição:

- Antes de saber o que eu sei, você precisa entender algo mais básico: o que é a NATUREZA. Para ser natureza é preciso ter uma essência universal manifestar-se da mesma forma para todos os indivíduos), ser inato (algo que já nasce com você) e deve se manifestar de maneira espontânea. Além disso, deve ter regularidade, frequência, constância, o fenômeno de se repetir. E, por último, não pode ter sofrido a intervenção humana.

Houve um momento de silêncio, que ela logo quebrou: - Não é algo que alguém possa compreender de cara...

- Como o mar? - questionei eu, interrompendo-a. - Ele se apresenta da mesma forma para todos, suas habilidades, na falta de uma palavra melhor para definir o que o mar faz, não é algo que ele tenha desenvolvido, mas que ele sempre teve e fez, e tudo o que o mar faz é espontâneo, tem frequência, regularidade, constância... - Fiz uma pausa, ela apenas me observava, indiferente. - Mas, o mar já sofreu a influência humana. Tantos navios sob seu manto, Tantos petrolíferas a retirar sua riqueza dos solos profundos. Tantos detritos, poluição. Tantos navios naufragados...

- Ok, ok... Você já está pronto para receber outra lição. - Ela disse isso, olhando para o chão como quem vasculha o próprio pensamento em busca de algo esquecido. - Para saber navegar estes mares, você tem que entender não só a natureza, mas a NATUREZA HUMANA. Você seria capaz de me dizer algo que fosse de natureza humana, conforme os critérios que lhe passei?

Comecei a dizer vários exemplos: respirar, fome, o bater do coração, etc. Mas para qualquer exemplo que eu lhe colocasse, ela pontuava uma maneira em que o homem interferiu: os aparelhos respiratórios ou as bombas para asmáticos, entre outras coisas que auxiliam alguém a respirar; a manipulação das propagandas de fastfood e das comidas gordurosas criadas para induzir nossa gula; o marca passo ou os transplantes de coração.

- Então, não há nada de natural no homem. Não há nada que ele já não tenha tocado ou modificado em si, ou até mesmo na natureza do mundo, pode restar pouco que seja verdadeiramente natural.

- Você chegou a resposta que os sábios da antroposociologia também chegaram para fundamentar esta ciência maravilhosa. Então, anote aí: primeiro, o comportamento do ser humano varia em consequência das condições sociais, econômicas, políticas, históricas e culturais em que vive; segundo, o ser humano desenvolveu comportamentos diversidicados e precisa da EDUCAÇÂO para se tornar propriamente humano; terceiro, a ideia de natureza humana como algo universal NÃO EXISTE; e, por último, os seres humanos são SOCIAIS e CULTURAIS. Agora vá! - disse ela fazendo um gesto com as mãos para que eu saísse logo dali. - Volte daqui uma semana e traga comida e sua curiosidade.

Fui-me com uma crescente dúvida, que ruminei nos meus pensamentos, até encontrar minha própria resposta: há algo de natural em mim, que ainda é natural em todo homem, a universal, inata e espontânea capacidade de sonhar, que se manifesta ao longo de toda minha vida, a cada instante. Que tantos já tentaram manipular, comandar ou destruir sem sucesso.

O sonho perdura. Volto a minha jangada e nela me deito, adormeço sentindo o balançar das águas.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Orgulho de ser

Para se fazer uma jornada é preciso se preparar. Logo, fui em busca de equipamentos e, acima de tudo, conhecimento. Algum mapa que me dissesse qual rota seguir e o que eu poderia encontrar.
Entre muitos guias, achei um extremamente prático e de fácil leitura e compreensão: "Como escrever um livro: a preparação do autor" de Nano Fregonese.

Logo no começo estanquei. Havia uma frase que me fizera pensar e reavaliar minha postura diante da busca de um sonho de ser escritor: "Assuma que você é um escritor de histórias. Não tenha vergonha. Orgulhe-se do fato".
Percebi que este era um ponto complicado para mim. Sempre escrevi, desde meus onze anos, mas sempre me sabotei. Escrevi para minha gaveta. Era apenas um hobby. Escritor passa fome. Então, sempre desviei meu caminho da possibilidade de pensar em mim e dizer: sou escritor. Eu conto histórias.
Dizer isto carrega um peso imensurável. 
É como tentar definir-se, encontrar suas fronteiras e saber que é livre para construir sua própria história, construir seu próprio mundo que depende só de você para existir.
O que me evocou a lei de Thelema: faça o que tu queres, há de ser o todo da lei. Esta máxima te propõe a fazer o que ama, e o que você ama torna-se a sua lei. Fazer o que você ama é ser livre, ser livre é ter disciplina para lutar consigo mesmo, continuar no caminho que você escolheu e construir sua própria história.

— Eu sou um escritor. — digo para mim mesmo. — Eis aí o que me desperta. Eis aí meu cerne. Eis aí o meu querer. Eis aí o meu orgulho. Eis aí o meu ser.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Um texto que não saiu como eu queria

Era para ser um texto bonito, falando sobre o ato de escrever, a arte de escrever. Começando com uma linda explicação sobre o porquê de um sujeito pegar lápis e papel, ou se colocar de frente de uma tela e teclar ferozmente, às vezes catando milho, às vezes não teclando nada, só para plasmar algo em palavras.


                Era para começar este texto refletindo sobre o lugar comum da folha em branco, sobre como aquele espaço vazio demanda, exige, impele alguns malucos a preenchê-la de linhas, traços, rabiscos, desenhos motivados e desmotivados, símbolos precários de coisas abstratas e fluídas que denominamos pensamento, em um  bloco estático e sempre indiferente e inexato... Nenhuma forma detém o conteúdo verdadeiro da troca eletroquímica de sinapses e o seu magnetismo que escorre no tempo, como ar entre os dedos.

                Era para ser em formato de carta a um “sr. Escritor”. Estava escutando a música Mr. Writer do Stereophonics e como ele é solitário: ”And then you go home/ With you on your own/ What do you really know?/ Mr Writer why don't you tell it like it is?”. Isso inspirou-me a escrever um texto sobre o ato de escrever. Outra coisa que me inspirou a escrever, foi uma entrevista do Douglas Adams que li no livro “O Salmão da Dúvida”. Vejo que muitos escritores se debruçam sobre esta questão, o que os impulsiona, suas dificuldades, seus interesses, tanto se debruçaram que existe um lugar comum sobre a “folha em branco”.

                Uma questão que é lançada comumente é: “Quanto tempo levou para escrever isto?”. Sempre respondo “umas três horas”, “umas cinco horas”, “oito horas”... A verdade, é que levou minha vida inteira. O texto que escrevo agora é fruto deste momento, que é fruto de tudo que vi, vivi e tenho a disposição da memória para moldar, reproduzir, misturar, inventar.


                “O que te inspira?”. Hoje aceito como próximo a verdade, que tudo a nossa volta inspira e não inspira, ao mesmo tempo. E é realmente assim que, mais ou menos, funciona: você anda na rua indo para o trabalho ou para um churrasco com amigos, vê um gato (essa imagem foi randomicamente escolhida e resolvi seguir em frente com ela, só para ver o que vai dar), sobe em um ônibus e vai para casa, chega em casa com o mundo gritando lá fora, você põe um fone de ouvido com uma música, para que o ruído da música neutralize o ruído do mundo, para se isolar, liga o computador, abre o seu editor de texto preferido, lembra do gato e... NENHUMA INSPIRAÇÃO/BANG-INSPIRADO. Como o gato de Schröedinger.

“Hein? Gato de quem?”. Não sou físico, mas vou tentar explicar essa parada como eu a entendo. A mecânica quântica apareceu para estudar coisas pequenas num nível subatômico, ou grandiosas como buracos negros, onde as leis de Newton (a mecânica física), simplesmente não são tão boas para descrever o funcionamento do universo. Uma das questões que tomam o tempo de físicos quânticos é a dualidade onda-corpúsculo de partículas subatômicas, no qual uma partícula de um átomo é ao mesmo tempo onda e corpúsculo. Na experiência, que os físicos sempre afirmam ser imaginária, um gato é posto numa caixa, com um contador Geiger (um mecanismo detector de partículas radioativas) ligado a um martelo e um frasco de veneno. Ao detectar uma partícula, o contador libera o martelo, que quebra o frasco de veneno, matando o gato. Como não sabemos em que momento isso acontece dentro da caixa, enquanto a caixa estiver fechada, o gato está ao mesmo tempo “morto” e “vivo”.

Voltando ao ato da escrita, é mais ou menos como essa experiência: você junta peças que capta ao seu redor - como um martelo, um contador, um gato e um frasco de veneno - numa caixa chamada mente e espera um tempo. Então, você abre a página em branco e tudo inspira a escrever/ nada te inspira a escrever. E é aí que você tem que ser o mais criativo possível, pois o fato de encontrar o gato morto dentro da caixa (não se inspirar) não pode lhe impedir de escrever.

Pegar o gato morto, o frasco quebrado de veneno, a caixa aberta e esforçar-se para que tudo isso caiba num texto sobre o porquê de escrever e as dificuldades que encontramos. Apenas porque ouvi falar em gatos e física quântica, enquanto escuto repetidamente a música Mr. Writer. E, só agora relembro da música do Stereophonics para dizer que ela é uma música sobre a solidão, guardada como um segredo por um sr. Escritor. Não consegui colocar esse elemento em meu texto. 





                

Definindo horários

Acordar cedo e fazer o máximo de coisas possível, sempre foi meu pensamento. Terei muito tempo pra descansar quando me for. Mas, hoje acordei relativamente cedo, ou seja dormi pouco. O que deixa a mente meio enebriada.

Você pensa em mil coisas que você tem que fazer, que estão lá só te esperando. O café para coar, os e-mails para ler e responder, encontrar algum tema para escrever sobre sua jornada, preparar as coisas antes de ir para o trabalho, organizar seu tempo para fazer as coisas antes de ir para o trabalho.

Você está enebriado, pensando em tudo isso, quando percebe que continua sentado na cama faz uma meia hora, sentindo sono e ainda não fez o café.

Acho que vou começar a inverter os horários todos, escrever quando chegar em casa, ir dormir tarde e acordar no exato momento de ir trabalhar. Talvez assim eu seja mais produtivo.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Diário de bordo

Há algum tempo resolvi tornar o meu prazer pela escrita, que até agora não é nada além de um hobby, em algo mais que isso.

Início uma jornada que não é de todo nova para mim, mas que ainda assim tem caminhos desconhecidos. Por isso resolvi compartilhar aqui minhas andanças, neste diário.

Não por simples ato de compartilhar, mas quero com esse blog lutar com um adversário que há muito me vence: eu mesmo.

Uma das maiores dificuldades que enfrento é a "constância". Escrevo por hobby, então escrevo uma hora aqui e outra hora ali, e no final escrevo quase nada. Aqui minha tentativa de escrever diariamente é um intuito de criar uma prática constante.

Por isso, aqui não estarão os meus melhores textos, mas estarão minhas melhores experiências.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Start

[...]e começo aqui e meço aqui este começo e recomeço e remeço e arremesso[...]
Galáxias de Haroldo de Campos

Aqui recomeço numa outra jornada. Saio da caverna onde estive tanto tempo acorrentado a sombras e ou em direção ao desconhecido que por hora ofusca minha visão. Mas há um mundo maravilhoso lá fora, de constantes perigos e muito trabalho é certo, mas uma nova realidade, novas realidades das quais não consigo estar alheio.

Vamos juntos?



[...]o que importa não é a viagem mas o começo[...]escrever mil páginas escrever milumapáginas paara acabar[...]começar com a escritura[...]por isso teço escrever sobre escrever[...]